Plenamente Deus e homem

Por Pe. João Paulo da Silva

Em seu livro “Exposição sobre o Credo”, Santo Tomás de Aquino nos leva a refletir sobre duas naturezas de Cristo. Fundamentados nas palavras desse doutor da Igreja, cremos que essa realidade tem a ver com a santificação humana e a glorificação de Deus, uma vez que a economia da salvação visa exatamente esses dois princípios.

É preciso reconhecer Jesus Cristo como verdadeiro Deus e verdadeiro homem, e isso acontece quando O vemos plenamente na sua humanidade e na sua divindade. Assim, “está, pois, esclarecido porque devemos crer que Cristo é o Filho Unigênito de Deus, e verdadeiro Filho de Deus; que sempre existiu com o Pai; que uma é a Pessoa do Filho, outra, a do Pai; que Ele tem uma só natureza com o Pai” (Exposição sobre o Credo, 1988, p. 35). E, por isso, a Sagrada Escritura afirma “Eu e o Pai somos um” (Jo, 10,30).  Podemos assim pontuar a consubstancialidade entre o Pai e o Filho, o fato deles existirem desde sempre e que ambos são verdadeiro Deus, tanto o Pai como o Filho.

No capítulo 14 do Evangelho de São João encontramos o ensinamento para não nos perturbarmos, porque acreditando em Deus podemos igualmente crer em Jesus, que é caminho, verdade e vida para toda humanidade. E é no seguimento a Cristo que chegaremos a Deus, visto que quem vê o Pai, vê o Filho e que um está no outro. Nesse sentido, é que pode acontecer a mudança de vida entre os homens, conscientes de que toda vida de Jesus é a expressão da vida do Pai. E os homens ao se encontrarem com o Filho, mergulham também em Deus.

A atitude de Jesus mostra quem Ele é, e quem é o Pai, e como é necessário assimilar e praticar as obras de Cristo, para se vincular ao compromisso do Reino de Deus na vivência diária da boa nova. E, nessa caminhada, “... a meditação dos mistérios da Encarnação, aumenta em nós o desejo de nos aproximarmos de Cristo. Se alguém, irmão de um rei, dele longe estivesse, naturalmente desejaria aproximar-se dele, estar com ele, permanecer junto dele” (Exposição sobre O Credo, 1988, p. 43).

Nessa perspectiva, o prólogo do quarto Evangelho corrobora o imenso amor de Deus pela humanidade ao fazer-se homem. A comunidade pode viver em Deus e conhecê-lo mediante a Palavra que se fez carne e definitivamente habita entre nós em Jesus Cristo: “...e a Palavra se fez carne e armou sua tenda entre nós. E nós contemplamos a sua glória, glória que ela tem como Filho único do Pai, cheio de graça e verdade” (Jo, 1, 14).

Sendo assim, Santo Tomás nos faz pensar no mistério da Encarnação do Verbo, como caminho de elevação da nossa condição de pecadores ao patamar de filhos de Deus em seu Filho Jesus, nosso Senhor e Salvador.  Em função disso, ‘sabemos que o Filho de Deus, não sem elevado motivo, veio a nós, assumindo a nossa carne, mas para grande utilidade nossa. Fez, para consegui-la, um certo comércio: assumiu um corpo animado, e dignou-se nascer da Virgem, para nos entregar a sua divindade...” (Exposição sobre O Credo, 1988, p. 42-43).

Por conseguinte, constatamos que Jesus Cristo, verdadeiro Deus e Verdadeiro homem, conforme o Credo padeceu sob o poder de Pôncio Pilatos, foi crucificado, morto e sepultado. É claro que Ele morreu por causa de nossos pecados e para nos favorecer à nossa redenção. Dado isso, “não se deve, porém, crer que, quando Cristo morreu por nós, a Divindade também morreu. Nele morreu a natureza humana; não morreu enquanto Deus, mas enquanto homem” (Exposição sobre O Credo, 1988, p. 44).

Portanto, Jesus Cristo, anunciado pelo anjo Gabriel e concebido pelo poder do Espírito Santo nas entranhas da Virgem Maria, segundo relata São Lucas no capítulo 1, veio para ser nosso Salvador. Ele veio como remédio para curar os pecados dos homens e para nos ensinar com a sua vida à maneira certa de viver e agir no mundo. Logo, a cura para todos os males decorrentes da nossa desobediência, encontramos em nosso Senhor Jesus Cristo.

Exposição sobre O Credo. Tradução e notas: Dom Odilão Moura, OSB. 2.ed. São Paulo: Loyola, 1988- e na Nova BÍBLIA PASTORAL. São Paulo: Paulus, 2014.

Pe. João Paulo da Silva