Luto e esperança

Por José Sonego

“Eu sou a ressurreição e a vida. Aquele que crê em mim, ainda que esteja morto, viverá” (Jo 11,25)

O Dia de Finados, celebrado em 02 de novembro, nos convida a rezarmos por nossos entes queridos que já realizaram sua páscoa para a eternidade. A saudade e a dor deixadas pelo falecimento dos nossos entes queridos são intensificadas nesse dia. A Igreja de Cristo peregrina, padecente e triunfante, celebra o mistério pascal e no processo de luto nos remete a esperança, a partir da perspectiva da ressurreição de Cristo.

Quando alguém querido falece

A perda de alguém querido quebra nossa rotina e costuma ser um dos momentos mais difíceis. O luto é um processo natural de superação da ausência física do ente querido. Ele varia de acordo com a estrutura psicológica, emocional e espiritual de cada pessoa. Geralmente é vivenciado em 5 fases: NEGAÇÃO, RAIVA, NEGOCIAÇÃO, DEPRESSÃO e ACEITAÇÃO, não necessariamente nesta ordem ou na sua totalidade.

Negação - É o momento em que a dor da perda é tão grande, que nos parece impossível suportá-la. A negação é uma defesa da nossa mente, em busca de aliviar a dor. Nesse estágio é comum que não queiramos falar sobre o assunto. Tentamos esquecê-lo. Não queremos acreditar na situação vivida. Argumentamos: “Isso não pode ser verdade!”.

Raiva – Essa emoção pode surgir junto com a inveja, quando recusamos a acreditar na perda. Pensamos: “Por que comigo?”. Qualquer palavra de conforto pode nos parecer falsa e difícil de ser aceita. Perdemos a calma quando falamos sobre o assunto, evitamos o tema e resistimos aos conselhos que nos são oferecidos.

Negociação – Ocorre quando começamos a encarar a hipótese da perda e, diante disso, tentamos negociar para que esta não seja verdade. Buscamos fazer algum tipo de acordo, de maneira que as coisas possam voltar a ser como era antes. Essa negociação, geralmente, acontece dentro de nós ou, às vezes, voltada para a religiosidade.

Depressão - Pode surgir quando tomamos consciência de que a perda é inevitável e que não teremos mais a pessoa querida conosco. Sentimos um vazio físico e emocional e percebemos que não há como mudar a situação. Com a ausência da pessoa, todos os sonhos, projetos e lembranças associadas a ela, passam a ter uma outra dimensão. Experimentamos um sofrimento profundo. Tristeza, culpa, desesperança e medo se fazem presentes. Impotentes diante da nova situação, nos isolamos e ficamos mais introspectivos.

Aceitação – Nessa fase aceitamos a perda com paz e serenidade. Isso é possível quando temos a capacidade de mudar nossa perspectiva e preencher o vazio, com a ajuda da religiosidade e o fortalecimento da fé que nos reergue. Confiando em Deus como apoio, temos uma nova visão sobre o que foi experimentado. No lugar de lamentarmos a perda, passamos a agradecer pelos momentos vividos com o ente querido.  Valorizamos mais aqueles que ainda estão ao nosso lado.

Sinal de esperança

Mesmo vivenciando os passos do luto, continuar crendo na vida eterna, conforme nossa fé católica, alicerçada na Ressurreição do Senhor, nos dá força para prosseguirmos. Fomos criados a imagem e semelhança de Deus não somente para os poucos anos de vida terrena, mas sim para a vida eterna.

Nesse caminho rumo ao eterno, a Igreja nos oferece os meios para obtermos a Salvação. Ela também está presente em todos os momentos da nossa vida, bem como na perda de nossos entes queridos.

Sendo assim, a Igreja Católica também acompanha as pessoas no momento da dor da perda por meio da Pastoral da Esperança, cuja missão é levar aos familiares e amigos a mensagem da esperança, animando-as para que não se deixem abater e recobrem o sentido de viver, renovando a esperança e a fé na vida eterna.

Ainda que haja, em muitas igrejas, um trabalho organizado de acompanhamento às famílias enlutadas, todos nós católicos, movidos pela esperança no Cristo ressuscitado, podemos rezar pelo descanso das almas e confortar as pessoas em luto com a nossa presença compreensiva, acolhedora e amorosa, pois o próprio Jesus nos diz: “Não se perturbe o vosso coração. Crede em Deus, crede também em mim. Na casa de meu Pai há muitas moradas, pois vou preparar-vos um lugar” (Jo 14,1)

José Sonego
Agente da Pastoral da Esperança